1º Evento WCD São Paulo: Conselho em Transformação

1º Evento WCD Brasil "Conselho em Transformação: O impacto do novo modelo de negócios na dinâmica da gestão e dos conselhos"

No primeiro encontro de 2020 da WCD Brasil, que foi realizado no último dia 4 de março no Grand Hyatt Hotel, a WCD (WomenCorporateDirectors) levou para a pauta um dos temas que estão – ou deveriam estar – no topo das agendas dos Conselhos: a transformação do papel do conselheiro(a) para garantir geração de valor para as empresas diante dos novos modelos de negócios.

Na introdução ao tema, Jonathan Sampson, MD Latam da Hays, parceira WCD e patrocinadora do evento, fez uma breve apresentação convidando os cerca de 130 convidados a refletirem sobre o papel esperado de um conselheiro nesse novo cenário. “Cabe a vocês escolher como usarão o tempo que dedicam ao conselho. Se apenas para seguir processos burocráticos pré-estabelecidos ou se estão lá para realmente agregar um valor diferenciado à empresa.”

“AS MUDANÇAS DAS QUAIS TANTO SE FALA NÃO SE RESTRINGEM A TECNOLOGIA E INOVAÇÃO. ELAS ENGLOBAM UM NOVO MODELO DE SOCIEDADE, DE COMPORTAMENTO E DE INDIVÍDUO, COMO CONSUMIDOR E COMO COLABORADOR.” – Daniel Motta.

Em seguida, Daniel Motta, CEO da BMI e consultor especializado em estratégia e cultura empresarial, falou sobre as principais tendências que impactam na forma como as organizações podem se transformar e provocou o assunto para o debate:

“O tema que estamos discutindo nos conselhos em transformação é: no século 21, como a agenda externa é muito mais rápida do que a agenda interna, se as organizações não conseguirem se plugar num bioma maior do que elas mesmas, não vão conseguir entregar o que é importante para a sociedade”, disse Daniel. “Os valores no século 21 não são os mesmos que regiam o capitalismo do século 20. E sem entregar valor, a empresa vai ser atacada pela sociedade. É o caso da Coca-Cola, por exemplo, que daqui a pouco vai ser taxada como tabaco”, exemplificou.

“O CONSUMIDOR DE HOJE QUER OUTRA COISA DOS NOSSOS PRODUTOS E QUER OUTRO COMPORTAMENTO DAS NOSSAS EMPRESAS, QUER VALORES ALINHADOS AO ASPECTO SOCIAL, A PROPÓSITOS, A UMA CAUSA MAIOR.” – Silvio Genesini

Do ponto de vista de Silvio Genesini, conselheiro do Grupo Algar, CVC, Anima e brMall, entre outros, a transformação necessária nos conselhos envolve uma compreensão mais ampla do conceito de inovação. “Não é só digital, inovação hoje é se reinventar e se adaptar às demandas de um novo ser, que vem com a nova geração, sim, mas não só”. Ele aponta, ainda, que o tempo dedicado a essas questões nos conselhos hoje é pouco ou quase nada. Silvio cita também a necessidade de revisão no formato dos conselhos. “Esse modelo rígido, com reuniões mensais, pautas pré-definidas e comitês muito concentrados nas suas próprias coisas não formam o ecossistema para o futuro”, diz. “Costumo dizer que hoje o conselheiro tem uma missão impossível, porque além de ter que cumprir todas as obrigações básicas de compliance, riscos, entregar resultado aos acionistas, temos que cuidar também de todas as novidades: o mundo pedindo propósito, pedindo diversidade, pedindo inovação.” Genesini falou ainda sobre o risco da disrupção. “Acho que estamos evoluindo, mas ainda muito longe de ter esse papel mais amplo e diversificado que o mundo espera.”

“AS EMPRESAS QUE VÃO ENCONTRAR SUCESSO SÃO AS MELHORES” –David Feffer

David Feffer, Presidente do Conselho de Administração da Suzano, compartilhou a estratégia adotada pela companhia para se reinventar e entregar o que a nova sociedade exige. “A gente acredita que olhar em profundidade para onde nós vamos, como nós vamos e com quem nós vamos é o que vai nos garantir fazer a travessia de um mercado analógico para um mercado de economia viva, biodigital”, disse ele. “Muita gente me diz que o papel vai acabar. É verdade. Alguns papéis até já acabaram, como o jornal. Outros, no entanto, tipo papel higiênico, vão demorar mais.”

Para David, esse cenário, mais do que uma ameaça, se coloca como uma oportunidade para a empresa se reinventar. E é do conselho o papel importantíssimo de inspirar e guiar a companhia nessa travessia. “Nosso novo negócio é a bioeconomia. Tudo o que é feito do petróleo, basicamente, pode ser feito da árvore, então, podemos dizer que somos uma alternativa ao plástico, ao petróleo, somos uma alternativa bio, que é o que o mundo pede.”

As três expressões usadas por David – “para onde vamos”, “como vamos” e “com quem vamos” guardam relação diretas com os comitês que apoiam o Conselho. “Para onde vamos” olha para estratégia e inovação, “como vamos” cuida dos aspectos de sustentabilidade e “com quem vamos” pensa sobre as pessoas que a empresa vai precisar para fazer o que ele chama de jornada ou travessia. “Os três têm o mesmo peso e relevância, e para a composição trouxemos pessoas diferentes, de mercados diferentes, de perfis diferentes.”

Segundo David, na Suzano a diversidade é fato concreto e imprescindível. “Já temos 20% de mulheres no conselho e assumimos o compromisso publicamente, há duas semanas, de ter 30% de mulheres em posição de liderança a partir de 2025. É um desafio grande, mas sabemos que são pessoas diferentes que nos ajudam a enxergar o mundo de forma diferente.”

“A DIVERSIDADE SOA LINDA NO PAPEL, MAS É ELA SUPER DIFÍCIL DE GERENCIAR NA REALIDADE” – Claudia Sender

Única mulher em alguns conselhos em que atua, entre outros Telefonica e Gerdau, – além de ser também a mais nova – Claudia Sender acredita que a diversidade só traz efetividade para um colegiado, seja conselho ou diretoria executiva, quando a representatividade não está lá apenas para cumprir uma agenda atual. “Tive sorte, pois nos conselhos onde eu atuo não existiu só vontade de trazer a representatividade, existiu também a vontade de trazer alguém que tivesse um ponto de vista diferente, disposto a contribuir e participar de forma igual.”

Claudia defende que uma forma de garantir o comprometimento com a efetividade na inclusão e na diversidade é por meio de incentivos. “A gente minimiza a relevância e o resultado de quanto os incentivos ditam o comportamento dos executivos, dos conselheiros e das comunidades em geral. Se você é sempre o dissonante e o chato da conversa, é muito difícil que a sua opinião seja ouvida, mas se você coloca isso de forma estruturada, dentro do plano de incentivo e na forma como o conselho dedica o seu tempo você começa a ter resultados reais. Enquanto não se mexe no bolso não se vê transformação real de comportamento”, afirma, completando que isso vale também em outros aspectos, como na sensibilização sobre sustentabilidade.

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